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Nem toda desatenção é TDAH

  • Foto do escritor: Isadora Fajardo
    Isadora Fajardo
  • 18 de fev.
  • 3 min de leitura

“Dra, não estou conseguindo focar nos meus estudos, procrastino muito meu trabalho e esqueço tudo o que me falam, pelo TikTok, tenho TDAH.”


O TDAH vai muito além do “A” e do “H” — ou seja, muito além da desatenção e da hiperatividade.

Cada vez mais, adultos têm procurado o consultório psiquiátrico com queixas sobre prejuízos na atenção, já acreditando que o diagnóstico de TDAH será a resposta. Afinal, os sintomas relacionados ao transtorno — desatenção, falta de foco e, principalmente, a procrastinação — são amplamente divulgados nas redes sociais.


No entanto, muitas vezes é necessário um olhar crítico ou orientação profissional para entender que a desatenção é um sintoma comum em vários outros transtornos e, em algumas situações, pode não ser indicativo de transtorno nenhum.


O TDAH não se resume a desatenção e hiperatividade; ele envolve outros critérios, como impulsividade e desregulação emocional.


Primeiro, é fundamental observar e ter evidências de que a desatenção e/ou a hiperatividade estão presentes desde a infância. Não existe “agora tenho TDAH” ou “estou com TDAH”. O transtorno é do neurodesenvolvimento e, portanto, seus sinais devem ser notados desde pequenino, com prejuízos em diversas áreas da vida.


As características mais comuns são:


Desatenção: Erros por descuido, confusão com datas, perda de objetos, demora excessiva para realizar tarefas (começa e perde o foco), e evitar atividades que exigem esforço mental prolongado, gerando um ciclo de procrastinação. A procrastinação no TDAH é um reflexo do desgaste mental, da antecipação do desconforto e do esforço necessário. Muitas vezes, a pessoa só consegue realizar a tarefa quando o prazo está muito próximo (pela adrenalina) ou quando sente empolgação.


Viver dependente da adrenalina e da empolgação pode gerar muito sofrimento, não é mesmo?


E o hiperfoco? Este também é frequentemente mencionado. Embora possa ocorrer, não é um critério obrigatório para o TDAH. A característica central do transtorno é o desequilíbrio no foco: ele é intensificado para algumas atividades e extremamente reduzido para outras. O hiperfoco no TDAH tende a ser multitemático — a pessoa se interessa por várias coisas e sua atenção se dispersa rapidamente. Isso é bem diferente do hiperfoco no autismo, que costuma ser monotemático, e aquele tema pode durar meses ou até anos.


A hiperatividade, por sua vez, envolve inquietação tanto motora quanto mental. Balançar as pernas, impaciência, falar excessivamente, dificuldade em ouvir o outro e ter uma energia constantemente elevada. Porém, essa energia é disfuncional, gerando ansiedade e angústia. O portador de TDAH se sente frequentemente entediado, com uma energia que não agrega e, na verdade, contribui para a fadiga.

O que intensifica essa fadiga é o esforço extra para manter o foco durante o dia a dia, o desperdício de tempo em tarefas e a intolerância ao tédio, além da dificuldade em relaxar.


Outro aspecto importante é a desregulação emocional. Aqueles com TDAH enfrentam dificuldades em retornar à homeostase emocional quando algo os tira do sério. Eles podem se irritar e explodir facilmente, sendo impulsivos, mas rapidamente voltam a um estado aparentemente normal, o que pode ser frustrante para quem está ao seu redor.

“Dra, 5 minutos depois parece que nada aconteceu e ela já quer que eu fique de bem” — é uma frase comum dita por familiares dos pacientes. Para o paciente, lidar com o desconforto emocional é uma verdadeira luta. “Ficar de mal” significa estar fora do equilíbrio emocional.


Portanto, o TDAH está bem longe de ser reduzido a simples dificuldade de atenção. É um diagnóstico complexo e muitas vezes se confunde com outros transtornos psiquiátricos, como transtorno de ansiedade, depressão, burnout, transtorno explosivo intermitente, transtorno afetivo bipolar, transtorno de personalidade borderline, entre outros.


Por isso, nunca tente se autodiagnosticar com base em informações superficiais nas redes sociais. Inclusive, o uso excessivo de telas pode gerar prejuízos na atenção, fica a dica.

Preserve sua complexidade e individualidade, confiando o diagnóstico a profissionais capacitados que vai te olhar para além dos critérios diagnósticos, considerando sua totalidade como ser humano, respeitando sua autenticidade e compreendendo o que é coerente em sua vida.


Assim como o TDAH vai muito além da desatenção, qualquer diagnóstico psiquiátrico vai muito além de seus critérios técnicos.


Foto de Anni Roenkae: arte abstrata que ilustra bem um cérebro hiperativo, muita informação, muitas ideias, muitas cores. As várias “bolhas” podem ser os vários subtemas que vão surgindo nesse pensamento. Multitemático, não há organização metodológica. Se organiza dentro da própria bagunça.

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