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O que a música popular brasileira pode nos ensinar sobre transtornos psiquiátricos

  • Foto do escritor: Isadora Fajardo
    Isadora Fajardo
  • 11 de fev.
  • 2 min de leitura

Se olharmos com atenção para as músicas que nos cercam, podemos perceber que muitas delas revelam os sofrimentos psíquicos dos ‘eu líricos’ que as cantam. A música popular brasileira é uma fonte poderosa de expressão emocional, que muitas vezes aborda questões profundas sobre a mente humana.

Às vezes, me pergunto: será que o compositor está vivenciando esses sentimentos? Será que a música é um projeto de catarse ou uma tentativa de se reconectar com o passado e suas próprias vivências? A curiosidade sobre o sofrimento psíquico sempre desperta reflexão, pois a dor psíquica é uma experiência universal, com a qual todos podemos nos identificar de alguma forma.

Recentemente, ouvindo Marisa Monte cantar “Pra Melhorar”, suas palavras me chamaram a atenção. Elas falam diretamente àqueles que atravessam momentos difíceis, refletindo um episódio de sofrimento psíquico, como o vivido na depressão:


"Quando você pensa

Que tá tudo errado e negativo

E que ainda vai piorar, piorar

Pra todo mundo a vida é difícil

Mas todos fazem seu sacrifício

Pra melhorar…"


Esses versos retratam uma sensação familiar a muitas pessoas que enfrentam a depressão: o predomínio do pensamento negativo, a sensação de que tudo está errado e que só tende a piorar. A depressão não se caracteriza apenas pela tristeza, ela também se manifesta pelo desgaste mental, pelos pensamentos autocríticos, pela falta de esperança e pela dificuldade em encontrar prazer nas coisas que antes davam prazer.

Esse tipo de pensamento distorcido, é uma das marcas da doença. E é por isso que muitos enfrentam o isolamento, o cansaço extremo e até o absenteísmo, afinal a energia necessária para interagir com o mundo desaparece, tornando qualquer tarefa ou relação um esforço imenso.

Na mesma música, Marisa também nos mostra a possibilidade de transformação. Em determinado momento, ela canta uma visão de esperança:


"Lá vem o sol (lá vem o sol)

Para derreter as nuvens negras

Para iluminar o fim do túnel..."


Essas palavras refletem o que a ajuda terapêutica pode representar para quem está em sofrimento: a luz que vem para dissipar as sombras da mente, renovando a visão sobre a vida e oferecendo uma nova perspectiva sobre o futuro.

Marisa continua, dizendo que essa luz traz a inspiração necessária para renovar os desejos, para fazer com que a pessoa "encha o peito e cante". E é exatamente isso que ocorre quando alguém permite que o tratamento entre em sua vida: uma oportunidade de recuperar aquilo que foi oprimido pela escuridão da depressão.

O resgate dessa inspiração do desejo é vital. O desejo nos move, nos permite fazer escolhas, nos posicionar no mundo e perseguir nossos objetivos. Ao buscarmos ajuda, conseguimos reconectar e redescobrir nossas possibilidades, recuperando nossa capacidade de, "ainda que a vida seja difícil", fazer sacrifícios para que ela melhore.

Complexo, não é? Mas preservar a complexidade da mente humana é um dos caminhos para a saúde mental.

Foi incrível como a música retratou com verossimilhança o que vivemos emocionalmente. Só quem está bem mentalmente possui resiliência e capacidade de se adaptar às adversidades da vida.

Cuidar da saúde mental é cuidar dessa complexidade humana.

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