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O silêncio que cura e o silêncio que machuca: solitude e solidão

  • Foto do escritor: Isadora Fajardo
    Isadora Fajardo
  • 3 de jun.
  • 2 min de leitura

Talvez você nunca tenha reparado, mas estar sozinho pode ser tanto um alívio quanto um aperto no peito.

Resolvi falar sobre esse assunto para ajudar meus pacientes, e outras pessoas, a flexibilizarem a ideia de estar só. Vejo com frequência como o silêncio social pode ser interpretado como abandono, e com isso vir a angústia, a tristeza, o sofrimento.

Este texto é um convite a enxergar esses momentos de estar só com mais gentileza. Vamos explorar duas formas muito diferentes de vivenciar o silêncio: a solitude e a solidão.

A solitude é a experiência de estar consigo mesmo de forma consciente e voluntária. Escolher estar só pode ser uma forma poderosa de autorregulação, um espaço para o autoconhecimento, para a criatividade e para a saúde emocional.

É possível entrar nesse estado através da meditação, da escrita, de uma caminhada, de uma corrida, de um hobby... ou até saindo para tomar um café com a sua própria companhia. Imagina? Um luxo.

Cada vez mais percebo o quanto essa pausa é essencial. Nos dias de hoje, imersos em telas e notificações, quase nunca silenciamos de verdade. Estamos hiperconectados o tempo todo.

Talvez por esse excesso de conexão, quando alguém se vê a sós, é como se estivesse diante de um abismo. E é aí que entra a solidão.

Ao contrário da solitude, a solidão é uma desconexão emocional. Podemos estar rodeados de gente, e ainda assim sentir o vazio. É o eco de um afeto que não chega.

Do ponto de vista psiquiátrico, quando a solidão se transforma em sofrimento, pode estar ligada a quadros de depressão, ansiedade social, luto, entre outros.

Sempre que escrevo por aqui, me questiono sobre como o tema se insere no contexto sociocultural em que vivemos. Falar de saúde mental sem considerar a cultura seria, pra mim, uma forma de alienação.

E finalizando este texto, talvez já deixando uma deixa para o próximo, tenho pensado que muito da solidão que vivemos hoje é fruto da romantização da hiperconectividade e do medo constante de estar perdendo algo. O famoso FOMO (Fear of Missing Out).

FOMO é essa ansiedade de sentir que os outros estão vivendo experiências incríveis enquanto você está ali, parado, sozinho, rolando o feed. Com as redes sociais, esse medo ganhou proporções enormes. A vida editada nos stories e feeds cria uma ilusão de movimento constante, ininterrupto. E aí, quando comparamos isso com o nosso silêncio, com nossas pausas, até mesmo com o nosso tédio… surge o tal vazio.

Precisamos tomar cuidado para que a solitude não se torne insuportável por causa desse ruído externo. Aquele café que você saiu para tomar consigo mesmo, mas não conseguiu ficar cinco minutos longe do celular, pode acabar parecendo uma tortura, quando poderia ser um respiro.

Para mim, o FOMO é uma ansiedade travestida de modernidade. E, nesse sentido, é um retrato muito fiel da solidão contemporânea.

Este texto é para mostrar os dois lados de estar sozinho. É para lançar luz sobre a linha tênue entre solitude e solidão. E, mais do que tudo, é para valorizar o pensamento crítico sobre os fenômenos sociais que moldam, silenciosamente, os nossos comportamentos, as nossas crenças e os nossos afetos.

 



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